Junto ao matadouro, plena zona, putaria, amigas antigas, grandes simpatias, putas, anjos noturnos que povoam sonhos e fantasias de toda sadomasoquista, de qualquer fetichista, que me provocam e dizem para mim que são mulheres livres e vagabundas, verdadeira acepção do termo, exponho Nica na rua, na porta, pronta para o meretrício, cafetino a vadiazinha, junto com Luciana, prostituta suave, prestimosa, gostosa mulher a quem já recorri tantas vezes, bela morena a quem apoio sempre, sem qualquer meio termo, eu seria capaz de amá-la se ela assim o quisesse. Nica excita-se ao ser transmutada em autêntica vadia, Luciana, segura e experiente, acompanha-nos na porta, na calçada aonde expomos nosso corpo, nossos predicados, aonde fazemos poses provocantes impunemente, para quem não sabemos, no fundo, para nós mesmas que amamos o próprio corpo, que apreciamos a falta de decência, que procuramos a nossa dignidade aonde outros encontram apenas o lixo, o pecado e a decadência, rebeldes e anárquicas, é ali que encontramos nossas verdades, no nosso calabouço, no nosso galpão do pecado, no vizinho puteiro, nas calçadas e nas ruas que de noite vagam por nós, nos atravessam, jogam por sobre o nosso corpo as brisas de uma noite vagabunda, os encantos das travessas mal iluminadas, os enganos da penumbra, as ilusões de falsos amores que sustentam nosso imaginário, quando sentimos o sopro da madrugada em nossas coxas, percebemos os arrepios de nossas peles, os nossos pelos que se tornam hirsutos, as nossas bundas que balançam livremente, que rebolamos uma para a outra alegremente, exibicionismo puro, uma buceta que se apresenta, sente também o calor do tesão, pressente a aproximação de machos, cafajestes, filhos da puta e safados, como todas apreciam, livro-me de todas as roupas, Luciana, magnífica e sedutora, fica apenas com suas canas altas, tamanco alto, belíssimo espécime de fêmea, tantas vezes a fodi, quantas vezes ela me fodeu, pretendeu um dia não me cobrar, neguei-me, pago-a, com prazer, admiração, maravilhosa puta que um dia, surpreendendo-me, conversando após uma deliciosa chupada mútua, cita-me Voltaire. Não há dinheiro suficiente para pagá-la, mas recuso-me a não fazê-lo. Sentimos agora os olhos machos sobre nós, rasgam, ferem, percorrem todo o corpo, quase sinto um caralho duro em mim encostando, Luciana ri, provoca, rebola, Nica, desejosa, um pouco sem jeito, mostra a buceta, exibe as cordas do Shibari que lhe apliquei, mostra a língua e manda beijos, excita qualquer pinto, acaba com qualquer consciência, induz à pouca vergonha, incentiva à indecência usando sua falsa inocência, putinha bem treinada, pelo preço indagada responde ironicamente comportada: pergunte à minha dona e me indica com um suave gesto de menina, eu, a essa altura nua, sobre as tamancas, a pequena corda que me aperta a buceta, passa entre minhas coxas, realça minhas carnes, torna-me mais vadia, mais puta, como eu gosto de ser, como eu gosto na minha vida secreta. Respondo que Nica custa uma fortuna, invento um preço descabido, ao ser perguntada pelo preço das três, mais que multiplico, exagero, pontifico, peço uma exorbitância, o filho da puta pede uma pose, eu faço, exibo-me, percebo que, dentro do carro luxuoso os machos se punhetam, vejo seus olhos ansiosos, sei que os pintos estão endurecendo, exibo-me mais, rebolo, poses estudadas, finalmente, a aquiescência, pagarão o exagero pedido, Luciana começa a rir, preparamo-nos para uma loucura, não são de se jogar fora, entram conosco no puteiro vagabundo, sem conforto e sem luxo, estranham a mim e a Nica, mas não têm coragem para perguntas, escolho um, pego forte no seu caralho, sinto-o duro, preparado, aperto, conduzo-o para uma cama, pequeno quarto, vou dar para esse filho da puta, vou acabar com ele, vou deixá-lo de quatro, pedindo para parar. Sinto-me vampira, vou matá-lo, devorá-lo, chupá-lo até a privação de todos os sentidos, não sabe o que vai-lhe acontecer machinho. Não lhe sobrará uma única gota de porra.
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